Sob as formulações dos Estudos Culturais, a discussão a respeito da criança pequena, sua constituição identitária e as interferências da instituição escola nessa constituição, contribui para o reconhecimento do caráter discursivo que configura o ser humano desde a infância. Isso evidencia a importância de compreendermos os processos de subjetivação que vêm se constituindo historicamente pelas práticas institucionalizadas, como o currículo escolar, e redefinirmos suas ações com vistas a favorecer a formação de identidades democráticas. A partir de uma compreensão mais ampla sobre a infância, a cultura infantil e a constituição do “eu”, o objetivo deste estudo é discutir possibilidades educativas que se propõem ao enfrentamento das relações de poder que afetam a cultura e as identidades infantis no âmbito do tratamento pedagógico da cultura corporal. Para tanto, realizamos uma “pesquisa em (inter)ação” com uma turma da educação infantil de uma escola da rede pública municipal de Aracaju – SE. O desejo expresso pela docente responsável de potencializar uma ação pedagógica comprometida com a democracia e incluir no currículo os conhecimentos da cultura corporal implicou uma ação colaborativa para o desenvolvimento de uma pedagogia engajada com a diversidade cultural e a justiça social, com subsídio das teorizações dos Estudos Culturais e do multiculturalismo crítico. As ações desenvolvidas foram registradas em diário de campo, foto e vídeo e analisadas mediante o confronto com a teorização cultural. Os resultados indicam que o currículo empreendido foi marcado por ações didáticas de caráter crítico que envolveram mapeamento, tematização, aprofundamento, ampliação, ressignificação e avaliação dos conhecimentos da cultura corporal das crianças, numa pedagogia que se desenvolveu como prática de diálogo aberto e plural, em interação com as questões socioculturais que afetavam a vida dos sujeitos envolvidos. Foi fundamental aguçar a formação da docente por meio de uma experiência crítica e reflexiva, que confrontou os conhecimentos sobre o currículo e as especificidades da tematização da cultura corporal na perspectiva assumida, com os aspectos socioculturais que condicionavam sua prática profissional e social, bem como as identidades infantis. As práticas desenvolvidas promoveram, em algum nível, mudanças subjetivas, na identidade dos sujeitos envolvidos que tendem ao favorecimento de posturas mais democráticas.
Palavras chave: Infância. Cultura. Cultura corporal. Currículo multicultural crítico.