Nos últimos anos, temos visto a reflexão sobre a avaliação intensificar-se, seja para criticar os processos consolidados no sistema educacional brasileiro que vem desencadeando elevadíssimos índices de reprovação e evasão, seja para aperfeiçoá-la por ser considerada indispensável à produção de uma escola de qualidade. A tentativa de aperfeiçoá-la vem acompanhada de políticas públicas e interesses políticos nem sempre declarados, pois, se assim fosse, como justificar o número de crianças excluídas dentro de uma escola “inclusiva”? No âmbito da Educação Física, para atender as demandas dos diferentes currículos, a avaliação assumiu diferentes faces, interessou-nos saber qual o seu semblante no Currículo Cultural do componente. O objeto de análise deste trabalho está restrito às práticas avaliativas de professores de Educação Física que atuam em instituições escolares, cuja proposta por eles desenvolvida alinha-se com a perspectiva cultural do componente. Para tanto, objetivou caracterizar o processo de avaliação na perspectiva cultural da Educação Física, investigar as práticas avaliativas desenvolvidas no interior do currículo cultural, descrever seus procedimentos principais e, ainda, desvelar as concepções dos docentes acerca da sua função. Empreendemos uma revisão de literatura com o propósito de mapear nosso objeto no âmbito da educação de maneira geral e mais especificamente no âmbito do componente. Realizamos entrevistas com quatro professores, cujo âmbito de atuação compreende os níveis: fundamental e médio da Educação Básica; recolhemos seus relatos de experiência e documentos pedagógicos para análise. As interpretações foram entretecidas mediante o confronto com o referencial teórico dos Estudos Culturais com vistas a identificar seus pressupostos principais e, assim, construir uma epistemologia da ação avaliativa. Os dados obtidos permitiram-nos afirmar que a avaliação é compreendida por esses professores como um texto em construção, como uma produção escrita baseada em informações sobre a ação educativa: produções dos alunos, pesquisas realizadas tanto pelos professores como pelos alunos e vivências corporais, distanciando-se do viés classificatório e excludente. Essa escrita se assemelha a uma estrutura provisória que embora apresente desenhos diferentes, para organizá-la, os professores utilizaram recursos pedagógicos semelhantes; referimo-nos às ações de mapear, registrar, pesquisar e decidir pela continuidade ou pela retomada, entretecidas pelo diálogo. Essas ações situaram tanto professores quanto alunos como sujeitos que autorganizam-se mediante a interação com diferentes discursos e textos, autoproduzindo-se, escrevendo assim as suas próprias histórias, cientes da sua inconclusão. Daí nos permitirmos a associá-la ao conceito de autopoiese (MATURANA e VARELA, 2003). Os professores materializam as aprendizagens dos alunos nessa produção/criação que, sendo parcial e provisória, cada turma desenha do seu jeito; por sua provisoriedade, abre possibilidade para novos conhecimentos, para outras indagações para que outras pautas sejam discutidas.