A literatura a respeito do currículo cultural da Educação Física afirma que suas perspectivas política, epistemológica e pedagógica vão se produzindo de maneira orgânica, a-centrada, performativa. Docentes que buscam colocar em ação a proposta se retroalimentam das teorias pós-críticas, são agenciadas/os por princípios ético-políticos e tecem sua escrita-curricular sem preconcebê-la. Através da elaboração de inúmeras cenas didáticas contribuem para que estudantes possam ler e produzir as práticas corporais, produzindo outras formas de dizê-las, fazê-las e pensá-las. Em suas andanças pedagógicas lutam diariamente pela construção de uma sociedade democrática, mais justa e menos desigual. Concebendo o currículo enquanto espaço de luta pela validação de significados e produção de identidades, aspiram à formação de subjetividades democráticas e solidárias. Apesar da aposta, não há garantias. Na sociedade atual altamente globalizada, neoliberal, multicultural e profundamente desigual, os abalos e tensões políticas, culturais e sociais modificam, ou não, as condutas dos sujeitos e o modo com que passam a olhar a si, aos outros e às coisas do mundo. Por vezes, as práticas de violência são utilizadas como mecanismo de normatização, controle, coerção e condições de morte à certas existências que não compactuam com as normas estabelecidas por grupos que detêm privilégio e exercem o poder na teia social. A prática pedagógica, as práticas corporais e os sujeitos da educação, imersos nas relações de poder, não estão isentos de produzir suas abjeções, ou seja, ininteligibilidades sociais. Ciente que determinados corpos e práticas corporais são alocados no campo da abjeção e, portanto, acabam por ser ininteligíveis, a presente pesquisa se propõe a investigar se e como experiências pedagógicas de docentes que dizem colocar o currículo cultural de Educação Física em ação contribuem para a produção de outras inteligibilidades sobre os corpos e as práticas corporais. O referencial empírico produzido pela queerização metodológica será confrontado com a epistemologia da Educação Física cultural em diálogo com o arcabouço teórico de Judith Butler e dos estudos queer.
Palavras-chave: Educação Física cultural, inteligibilidade, práticas corporais.